6 de outubro de 2012

Eleições em Palmas: cinismo político x arte do insulto

No período de atividade do Matarte de dezembro de 2009 a novembro de 2010, nunca procuramos falar de política, embora ela insistia em se fazer presente de forma desagradável quando falávamos de eventos culturais como o Salão do Livro e o antológico Domingo no Paraíso. Agora é véspera da eleição mais polêmica e disputada da capital do Tocantins, e cansamos de ver tanto cinismo por aí vindo inclusive de pessoas críticas e que estimamos muito.

Por isso, sentimos a necessidade de nos posicionar neste tabuleiro onde as boas intenções permanecem tão distantes. Estivemos acompanhando o horário eleitoral gratuito na tv e os ataques e contra-ataques no facebook. Houve muito esforço para não engolir o que tentavam nos induzir. Quando não teve mais jeito, mastigamos tudo, fizemos uma leitura do sabor que isso tinha e agora vomitamos para vocês.

Carlos Amastha (PP)Amatharte-eleic_a_o

O dono do Shopping Capim Dourado, Carlos Amastha, era um nome em que antes da campanha a maioria das pessoas imaginava que ele só estava fazendo nome nesta eleição. E as primeiras pesquisas mostravam isso. Sem aliados políticos de peso – leia-se velha-guarda - ele tinha uns 10% das intenções de voto. Mas com os investimentos de peso e um personagem cosmopolita com destreza para se adaptar a qualquer território e qualquer crença, a propaganda desenvolveu um conceito e o aplicou com eficiência.

Esqueça qualquer coisa que você tenha ouvido a respeito deste homem. Ele não tem passado. Tudo o que existe são as lendas contadas por seus inimigos. Ele é um milionário que entrou para a política somente para trazer mudanças. Ele não precisa roubar, não precisa nem do salário de prefeito e só quer o bem dessa cidade. Ele é o super-herói. A juventude está encantada com a possibilidade de ter Batman como prefeito. Se morresse hoje, Amastha morreria como um mártir, com direito a estátua e o seguinte epitáfio: “Eles dizem que não entendem o que eu falo. Eu não entendo o que eles fazem.” Haveria comoção generalizada entre a juventude de atitude.

 

Marcelo Lélis (PV)

matarte-elElisc_a_oO bom moço e com dotes estéticos destacados nacionalmente em eleições anteriores seguiu direitinho a cartilha do político midático: superestimava toda a trajetória percorrida por ele como secretário do meio ambiente, vereador, candidato a prefeito e deputado estadual, e foi oportunista para se manter em evidência nos veículos de comunicação várias vezes, como nos protestos contra o aumento da passagem de ônibus, e conseguiu se destacar mais do que o próprio partido no estado.

Fatalmente, e põe fatalmente nisso, iniciou a campanha como se já tivesse sido vencida: fala mansa (destoando da essência de todo político), sorriso de pai de família em propaganda de margarina, e as metáforas cínicas com jardins e flores e ele como o grande jardineiro. Ele parecia tão preparadinho. Mas acostumado com a política e o cenário tradicional no Tocantins, esqueceu que com o fim das disputas ideológicas polarizadas, nenhum eleitor garante fidelidade até a hora do voto, e está suscetível a mudança de lado com qualquer persuasão publicitária ou econômica.

Quando percebeu a crescente do Batman, cometeu o pior erro de todos: estimulou um preconceito super ultrapassado, despertou o nazista que havia dentro de cada palmense-gaúcho, palmense-goiano, palmense-maranhense, palmense-mineiro, palmense-paraense, etc… Quem não tinha a suástica riscada na cueca rejeitou Lélis e deu força ao Batman, que passou a ser o coitado, o OUTRO, o diferente. Se hoje Amastha tem sido tratado pela imprensa nacional como possível fenômeno eleitoral, parte dos méritos vão para Lélis. Tantas formas de debater e optaram por condená-lo por ter nascido na Colômbia, o que para a justiça eleitoral não significa nada caso o candidato tenha se naturalizado. Ou Palmas não está aberta a estrangeiros? Para quê comemoram aeroportos internacionais, possibilidades de hospedar seleções no ano da Copa do Mundo e investimentos estrangeiros? Vamos defender a xenofobia só se for contra os animais africanos. Quando se sentiu ameaçado, ainda teve coragem de ressuscitar a metáfora da caneta, que foi usada em 2008 e já não tinha rendido nada.

A história sempre nos ensina as consequências de determinadas ações em campanhas eleitorais. José Serra estava um pouco atrás de Lula nas pesquisas em 2002. Atacou e despencou. Fez de Lula o presidente mais votado do mundo (em quantidade de votos). Siqueira estava atrás de Gaguim em 2010. Conseguiu uma bomba para atacar Gaguim. Não tinha tanta credibilidade, mas aí Gaguim resolveu que podia censurar a imprensa local e sair impune. Perdeu por 7 mil votos. Ao bradar “Eu sou palmense, Eu sou brasileiro” a campanha de Lélis fez como Serra. Agora tentam a estratégia de Siqueira com informações judiciais. Isso tende a equilibrar as coisas, mas só domingo a noite saberemos, e até lá muita coisa ainda vai acontecer. “Só não tenho mais temor pelo futuro porque não consigo imaginar algo pior que a situação presente” (SANTOS, Daniel dos. O otimismo: paradoxo. Palmas, 2012).

 

Luana Ribeiro (PR)

matarte-lu-lu-eleic_a_oTadinha. Ela quis porque quis ser candidata a prefeita agora. Se tivesse esperado, podia tá com o Lelis e a eleição definida a essa altura. Ficou sem o apoio da velha-guarda, e não transmite a mesma firmeza de seus adversários. Ela ainda é filha de alguém, e não tem a rebeldia de uma Princesa Isabel. Teve que se contentar com o apoio que ninguém queria: o atual prefeito. O eleitor olha para ela e não consegue deixar de enxergar João Ribeiro em um ombro e Raul Filho no outro. Com esse “apoio”, a única coisa que ela conseguiu foi se dar ao luxo de ser a única candidata que não podia criticar a atual administração da cidade. Iniciou a campanha como uma pessoa doce, mas as pesquisas indicaram a queda dela. Então partiu para a postura da mulher com coragem pra fazer, e caiu mais. Isso tudo foi pesado demais para ela.

Mas ainda havia uma salvação: todo bom terceiro colocado, mesmo quando sabe que não vai ganhar, tenta deixar um legado positivo da campanha. Normalmente, aproveitam a visibilidade para estabelecer debates que contribuam para a sociedade refletir. Foi assim com Cristovam Buarque e o tema da educação, e Marina Silva e o tema do meio-ambiente e sustentabilidade. A campanha da Luana não soube trabalhar isso. Não fugiram dos temas previsíveis: escola de tempo integral, transporte coletivo, habitação e a promessa feitas por todos os candidatos de que um dia Palmas será Curitiba. Então o fracasso da campanha dela não é ficar em terceiro, e sim não ter deixado nenhum legado. Quando as coisas esquentaram entre Lélis e Amastha, ela quis correr por fora, mas alimentou o preconceito com o “Sou brasileira, sou mulher, sou Luana”. Aí não fia!

Sobrava alguma esperança de que algum nanico poderia deixar um legadinho ou criar uma polêmica pelo menos em debate. Mas quando não se embananaram em seus posicionamentos confusos, suas palavras eram mais confusas que os discursos, e não passou disso, até porque a TV Anhanguera deu aquela força com a não realização do debate. Peraí, deixa eu conferir na minha lista se ainda falta insultar alguém…

Ah, o eleitor…

Você defende um candidato porque confia nele ou porque teme as ações do outro? Reformulando a pergunta: você ataca um candidato porque não acredita nas intenções dele ou é para proteger um candidato a qualquer custo? Você apoia um candidato sem expectativas para garantir um emprego ou cargo? Faço estas perguntas sinceras para tentar entender o motivo de tamanho envolvimento emocional com os candidatos. Por ideologia eu sei que não é. Pois qualquer fato novo é capaz de te fazer mudar de lado.

De estudantes universitários e adolescentes a jornalistas, artistas e intelectuais, entre outras classes, quase todos usam as redes sociais para defender os próprios candidatos com argumentos que subestimam a inteligência e o senso crítico das pessoas. Se este texto soa como insulto a você, tenha certeza de que é uma resposta por estes meses sendo insultado diariamente.

6 comentários:

Priscila Guardiola disse...

Muito bom o texto. E realmente reflete a realudade da campanha aqui, os militantes insultando a nossa inteligencia.

Unknown disse...

Este texto falou muito do que eu penso, no meu ciclo de pessoa do dia a dia, quando o assunto é política a coisa começa branda e logo aumenta o emocional que por vezes eu apenas deixo a pessoa encerrar o assunto e deixa o seu "bat raciocínio" prevalecer. Mas, de uma coisa eu tenho a certeza após as eleições, seja quem for que vença, a vida vai voltar a rotina de sempre incluseve com a condição prefeito - população de hoje. Que pra mim é cada um no seu canto. O de cima sobe e o de baixo desce. AMÉM.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Filipe Borges disse...

Boa análise! Acompanhei muito pouco das campanhas, mas de longe se pode perceber que PERFEITA é um adjetivo que define bem a campanha de Amastha. Famílias Salvatti/Bornhausen provando mais uma vez que entendem de (marketing) política.

zuca disse...

Texto lindo, reflexões muito sensíveis.
Vida longa ao Matarte !!!

Gabriela Thomé disse...

Gostei muito!

Só como nota, Amastha começou com 1% e em algumas pesquisas 0,63%.