No fim da tarde de sexta-feira, 15, Thiago Tubarão, Maurício Selagi, Caio Rps e eu chegamos em Paraíso do Tocantins a tempo de ver em uma das principais avenidas o carro de som anunciando os shows do Mata-Burro (Palmas), Makakongs 2099 (Brasília) e Few Coins (Paraíso) na praça José Torres. Era dia de rock em Paraíso!
O palco foi montado pela Prefeitura de Paraíso do Tocantins em frente a praça como atividade da Sexta Cultural, com a proposta de levar atrações culturais gratuitamente para a população. A participação do público ainda era uma incógnita pra mim até às 20h, quando ainda havia poucas pessoas, mas já tornava-se evidente uma incomum presença da combinação de jovens roqueiros e famílias em busca de lazer. Havia brinquedos infláveis, barraquinhas de crepe, tapioca e bebida.
Pouco mais de 21h, a banda local Few Coins – que nos bastidores virava Phil Collins – começa seu show. Apesar de adolescentes, na passagem de som o trio local já me chamou a atenção ao sair do óbvio tocando Buzzcocks (Ever Fallen in Love). Ainda tímidos no palco, tocaram algumas músicas autorais e covers de Nirvana, Ramones, Legião Urbana (Geração Coca-Cola) e Rodox. A banda teve três formações durante o show. Em duas, o baterista e o guitarrista se revezavam. Na terceira, outro garoto assumiu o vocal e guitarra.
Outro ponto que chamou a atenção durante o show da banda foram os seguidos toques que o guitarrista do Poetas do Caos, Fernando Rios, dava para a banda. Desde o alinhamento dos músicos no palco, regulagem do som e ainda uma leve bronca no fim do show para que os músicos recolhessem seus instrumentos no palco. Foi legal ver a banda como renovação da cena local e um músico experiente se esforçando para ajudar a banda a evoluir.
Em seguida, sobe ao palco os veteranos Makakongs 2099, preservando somente o baixista Phu como integrante da formação original de 1998. Completavam a formação o guitarrista André e Yuri Formiga na bateria. No início do show o trio já começou com um dos seus clássicos, Bota pra Lascar, e utilizou a sua experiência para provocar o público: “Nós somos a maçã e viemos transformar o Paraíso no inferno!”.
Deu resultado! Com o som marcado pelo frenético tu-pá-tu-pá-tu-pá, na segunda música já havia uma concentração de camisetas pretas agitando próxima ao palco. Na terceira música, o público roqueiro já estava suado. E assim o show seguiu com a formação de rodas em praticamente todas as músicas seguintes.
O repertório mesclou músicas de todas as fases da banda, além de algumas ainda inéditas, e o público se empolgava bastante com as letras com mensagens diretas contra grandes corporações como em McMaldade e Droga-Cola. Phu ainda foi didático ao incentivar a abstenção de votos dizendo que ele não votava e nem justificava sem qualquer prejuízo, mas não deixou de parabenizar a prefeitura do município pela realização do evento e alfinetou que era obrigação dela com aquele público.
Da mesinha em que eu estava vendendo cd, camisetas e fanzines, pude ver o rosto de cada integrante do Mata-Burro no instante antes de subir ao palco. Uns ficavam sérios e outros riam para disfarçar, mas estava nítida a ansiedade por finalmente realizar o show de lançamento do primeiro álbum. São sete anos de banda, duas tentativas frustradas de gravar o álbum às próprias custas, e O Preço Da Vida já estava gravado desde 2013.
Finalmente, o Mata-Burro sobe ao palco, e o baixista Bento acrescenta à provocação de Phu que, se o Makakongs era a maçã, o Mata-Burro trazia a cobra para transformar Paraíso no inferno de uma vez. O show começou com Porta Voz da Dor. Em pouco tempo, já estavam à vontade, com o guitarrista Thiago Tubarão se deslocando pelo palco e agitando em cumplicidade com o baterista estreante da banda, Maurício Selagi. O público se encorajava a subir no palco seguidamente para realizar o stage diving.
Como não podia deixar de ser, o repertório foi concentrado na maioria das faixas gravadas no álbum, como Mangueira Is The Solution, Fogo no Tambor, A Regra é Clara e Irmão Escolhido. As músicas eram tocadas em bloco para ninguém perder o pique. Mas a entrega era muito grande. Tanto que em alguns momentos, o vocalista Ithalo Kodó, que tinha ensaiado durante duas horas sem problema alguns dias antes, parecia que não aguentaria tocar as 20 músicas previstas.
Mais para o fim, o Mata-Burro fez dois covers, um do Cro-Mags (Hard Times) e outro do próprio Makakongs (Bota pra Lascar). Pela reação dos candangos, que estavam próximos a mim, o cover parece ter surpreendido a banda. Foi o momento de reverenciar a banda que foi influência para o Mata-Burro desde o começo. Por volta de 23h30, terminou o show.
Essa foi a primeira vez que vi um show de rock em Paraíso, e fiquei intrigado para entender por que não acontecem eventos por lá com mais frequência. Ninguém queria que aquela noite acabasse. O público permaneceu na praça mesmo com o fim da programação, e nós fomos terminar a noite no Bistrô Oficina Geral. Conversamos sobre o show, e a banda estava satisfeita. Definiram o público local como “insano”, no melhor dos sentidos. E assim eles se questionaram se os shows seguintes poderiam ser melhores do que esse.