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24 de maio de 2010

Rock, futebol e tudo mais

Sábado, 15 de maio, dia de futebol, não só futebol, mas a final do Tocantinense, algo muito importante, haja vista que ele só acontece uma vez por ano e requer de nós tocantinenses ou não, um carinho muito especial. No entanto os ávidos rockers estavam mesmo na expectativa do #II FMI – Festival de Música Independente, que ia começar às 20 horas, mas a tradição do atraso por aqui faz jus à máxima, e o evento começou lá pelas 22 horas, por conta dos ambulantes da Feirinha da Amizade, dos estudantes que estavam em conferência no espaço interno do Centro Cultural Mauro Cunha e, sobretudo por conta da reprise do final da novela de Manoel Carlos, afinal é muito excitante você acompanhar a história de personagens milionários, com os mesmos nomes, destaque para o sempre inesquecível médico, provavelmente o geriatra do autor, o Doutor Moreti.

De maneira que sem mais delongas de um lado da cidade mais de 3 mil pessoas envaidecidas no Rezendão, e o melhor de tudo, uma renda recorde de mais de 20 mil reais aos cofres do Gurupi Esporte Clube.  Gurupi fez 3 a 1, e não só jogou bonito, depois de mais de uma década o camaleão do sul, que na verdade não é camaleão, mas sim iguana, tomou banho de sal e quebrou essa zica, essa macumba, esse tabu. Ano que vem tem Campeonato Brasileiro série D, e o torneio mais democrático, a Copa do Brasil.

Depois de todo o futebol maravilhoso acompanhado pelas lentes da transmissão exclusiva da Rede Sat e pelas ondas sonoras da Rádio 104 sua rádio rock que virou mania foi uma coisa linda de se ver, outros preferem dizer alienante embora eu não acredite e fiquei arrepiada quando tirei do fundo da garganta o grito de ‘É CAMPEÃO!’.

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A missão de abrir o #II FMI e ser a única banda genuinamente made in Gurupi ficou por conta dos Piratas do caribe. Com cara nova, a banda continua simpática, apesar de que hard rock e heavy metal não estão no meu playlist senti a falta do espírito Axl Rose no último fest, o ‘Apocalypso’.  Atrasada, cheguei no final do show, que abriu o primeiro festival de rock em praça pública,  um fato marcante para a recente vida do rock gurupiense.

Depois de praticamente meia-hora gasta na passagem de som, a parauapebense Antcorpus esquentou um público bem vidaloka-fromhell-666 que levantou poeira, no melhor estilo Ivete Sangalo de ser. É coisa bonita de se ver e até que eu tentei filmar, mas não rolou uma filmagem massa. O Bob (batera da Meros-Berros) havia me apresentado a banda semanas antes do festival e confesso que não havia me animado muito, mas por puro preconceito antes do que qualquer outra coisa. Destaque para o vocalista que interage muito bem com o público, resultado é que a Antcorpus foi a melhor da noite, de fato o clímax do festival.

Com pés fincados na cena do Estado, Poetas do Caos é um tipo de banda que dá gosto de ouvir e analisar minuciosamente cada letra. Cláudio Macagi, vocal, se sentiu bem em casa, até porque sua madrinha (?) dá nome a Biblioteca Municipal, é amigo de Zacarias Martins (poeta, escritor e jornalista) e aparentado de outro escritor de mão cheia, o professor Robertão. A banda que um dia já foi ‘Oficina Geral’ diz não ter muitas pretensões filosóficas e é nesse ponto que eu discordo drasticamente deles. De modos que basta viajar no rock-blues-bossa e sei lá mais o quê que os caras de Paraíso fazem! E se alguém me pergunta? “Carimba Godoy?” eu digo: carimbadiiiissiiiimo, ou qualquer outro superlativo correspondente.

A Fragor, conterrânea da Antcorpus, veio de longe, do sudeste do Pará, nada mais que 900 km percorridos durante 13 horas para o esperado show, pelo menos eu esperava muito da banda, desde a primeira vez em que ouvi falar ‘Fragor’ no Agosto de Rock do ano passado.  Nos singles “Esfinge” e “De olhos fechados” a veia strokeana é muito latente nos parauapebenses. A Fragor foi a penúltima banda e nessa altura do campeonato, em que a maioria do simpático público da Feirinha da Amizade já tinha caído fora, e só os roqueiros de verdade estavam ali, meteram logo um cover para fazer dançar de “O Rock Acabou” da carioca Mop Top e posteriormente The Strokes e Volver. E eu cá com meus botões, onde está o Casablancas? Meu D’us aqui em Gurupi, Julian Casablancas! ‘Is This It’ mudou a minha vida e a sua? Na verdade Will Alencar (Vocal, Guitarra) tem um jeito todo Zéu Britto nova-iorquino de cantar. Com pouco mais de um ano na estrada, espero bem mais do quarteto indie-rock from Pará, e provavelmente vou me tornar fã, numa outra oportunidade quem sabe, talvez no Agosto deste ano ou por aqui mesmo.

Agora imagine comigo a conspiração pré-IIFMI, “olha aê a Clamor, a banda é cristã e quando eles começarem todo mundo junto vai dar dedo. Beleza! Combinado? Vamo lá, arrebentar!” E esse espírito cooperativo me deixa muito entusiasmada, afinal com tantos problemas existenciais que todos nós temos, é brilhante um comportamento desses, mais pseudo do que toda essa resenha, a união em tempos hodiernos é muito rara mesmo. Clamor chegou cedo para o festival, primeira banda de Araguaína que ouço tocar por aqui. Com um guitarrista novo, o pioneiro baterista e vocal da banda somado ao baixista, tocaram menos que quatro músicas do set list e o show acabou por conta de toda a confusão armada. Eu que não sou ateísta, não sou agnóstica, cristã, judaica ou muçulmana, rotulo, sem temer qualquer retaliação! Foi uma parada preconceituosa, de extrema patologia: acefalia.

Por mais que isso seja um comportamento isolado, afeta muito a cena embrionária e aborta todo o festival, que por sua vez só é realizado pelo afinco de pessoas que realmente amam o rock e tem a coragem de expor a cara a tapa e realizar um evento em praça pública, totalmente free.  O festival foi lindo no final de todos os percalços, entretanto deve ser o último realizado nestas condições.

Por fim, a  Super Noise seria a última banda a tocar e não tocou por uma série de problemas, dentre eles o principal foi por conta do equipamento de som que teria de ser entregue a meia-noite e quando a Clamor subiu ao  palco da Feirinha da Amizade os ponteiros já  indicavam quase 1 hora de domingo.

Foto por Cláudio Frascari

Escrito de Gurupi pela jornalista diplomada Lidiane Moreira