2 de maio de 2010

Conto os dias e as histórias

Meu pai sempre me ensinou tudo. Tudo o que ele sabia. Tudo o que sabia que sabia. Todavia, até mesmo o que não sabia também me era explicado – com a maior cara-de-pau.

calebejardineiro

Eu, pentelho epistemiológico, sempre tinha uma perguntinha pronta pra ser proferida. Minhas dúvidas sempre penetravam no solo fértil que era a necessidade pedagógica inata de meu pai. E assim viviamos naqueles dias de minha infância.

Incerto dia, saindo do banheiro de mais uma rodoviária, perguntei para aquele homem que eu achava o mais alto de todos os gigantes da cidade, o papai:

– Pai, porque lavamos as mãos antes de sair do banheiro?

– Ora, meu filho. Para ficarmos limpos. Para o que mais se lava as coisas? – respondeu o meu gigante.

– Isso eu sei! – falei isso dando soquinhos na testa.

– Então para que a pergunta? – aparentemente ríspida, essa segunda pergunta de meu pai àquele pobre anão que tentava conhecer um mundo pelo modo mais simples e mais completo: conversando.

Mal sabia eu, pobre anão, que nem ele – com todos aqueles fios grisalhos que naquela época brotavam de seu vasto topete –, nem ninguém, iria conhecer por inteiro esse ambiente externo que há seis anos me tinha sido apresentado sem aquela espessa barreira uterina.

Bem, com meu pai nenhuma palavra soava ríspida. Ríspida também foi uma palavra que ele me ensinou. Mas essa é para uma outra história. E então continuei:

– Pai, é assim: nós lavamos a mão porque pegamos em algo sujo. Confere?!

– Confere – concordava ao mesmo tempo que as suas narinas inflavam para sorrir.

– Logo – adorava introduzir minhas elucubrações com essa partícula cartesiana – o que é sujo é o meu pintinho. Certo?

– Sim.

– Então! Num seria melhor se lavássemos a mão também quando entramos no banheiro.

– Tá – meu pai estava gradativamente diminuindo o número de letras ao tentar falar.

– Mais uma dúvida. Por quê meu pintinho é sujo?

– É…

O ônibus chegava. Eu ainda duvidava se alguma resposta me seria dada por qualquer um daqueles passageiros na longa estrada que eu, pequeno, só agora iniciava.

5 comentários:

Calebe disse...

falta os créditos, para o modelo da foto aq, Eu...heheh

Marco disse...

Hahaha! Boa! essa foi boa!toca aqui... Pera aí, tá com a mão limpa?

XD~

Daniel S. C. Silva disse...

Duvido que sejamos os únicos, mas também já refleti sobre isso.

Em banheiros públicos movimentados, ainda prefiro sair com a mão "suja" do meu pinto do que lavar naquela torneira onde várias mãos sujas de outros pintos já marcaram território.
Peço desculpas publicamente a todos que já me cumprimentaram após eu sair de um banheiro público.

Mas também duvido que eu seja o único nessa. hehehe

Ciro Gonçalves disse...

Resposta aos três comentários:

Calebe, olha o nome do arquivo da foto.

http://letras.terra.com.br/arnaldo-antunes/91646/

e, por último, e menos importante:

google: falocentrismo

Winicyus Nolêto disse...

Eu sempre lavo antes de entrar no banheiro, afinal meu pinto merece uma mão limpa pegando nele, e lavo depois de utilizá-lo tbm =D


Ps.: a palavra da verificação do comentério foi: herva. rsrs