Em meio a essas tarefas, eu aproveitava o recesso do meu estágio em uma agência de publicidade para curtir um pouco do nada que tinha pra fazer na cidade. Enquanto alguns amigos da faculdade voltavam às suas cidades de origem, outros amigos dos tempos de escola, e que faziam faculdade fora, também voltavam à Palmas.
No dia 6 de janeiro, o carro da sua vó, um Siena branco, estava encostado na garagem, e eu o peguei para dar uma passada nas casas dos seus tios Frauda e Frederico. Após convencer os dois, fomos almoçar juntos com sua mãe na casa em que eu morava com a sua vó. Relembramos bobagens ditas e mal-entendidos dos tempos de adolescente ingênuo e retardado. Pela tarde, minha mãe me entregou 500 reais e só queria que eu pagasse o IPVA do carro, e depois estaria liberado para me divertir com meus amigos. Após uma rápida passada no DETRAN, descobrimos que o sistema estava fora do ar, e adiei esse compromisso para o dia seguinte. Visitamos nosso amigo Renan para pegar um jogo de futebol para Playstation e seguimos para jogar na casa do Fred.
Acho que mal tínhamos jogado uma partida, e a campainha tocou. Um mulher que havia parado o carro por perto perguntou se o carro branco em frente a casa era de um de nós. Já esperava que alguém, talvez ela mesma, tivesse batido no carro. Quando fui verificar, para a minha surpresa foi pior do que eu esperava. O vidro de uma das janelas traseiras estava estilhaçado, e percebi a ausência da minha mochila, companheira por cinco anos e substituta perfeita para a pochete que eu usava até os 15.
Apesar de ter me lembrado de levar o a frentinha do som do carro, não me lembrei de levar para dentro da casa nem a mochila e muito menos o dinheiro. A princípio, entrei em desespero, e já admiti que abriria mão do meu salário no estágio para ressarcir sua avó. Mas para a minha sorte, sei lá porque eu não guardei o dinheiro na mochila, e sim no console localizado na parte da frente do carro. Como a ação do(s) ladrão(ões) foi rápida, ele sequer entrou no carro, levou minha mochila idealizando que houvesse um notebook lá, e não percebeu cinco notas de 100 reais.
Ainda assim, ficou o prejuízo material do vidro quebrado, da mochila e dos meus documentos pessoais, que eram os únicos objetos que eu carregava durante as férias. Mas o lado material sempre é o menos importante em situações que envolvem qualquer tipo de violência. A grande herança que vou levar para o resto da vida é a castração da minha liberdade. Sempre terei a paranoia de onde posso e não posso estacionar o carro, e de carregar comigo qualquer coisa que tenha o mínimo de valor deixado no carro. Mas a vida é assim mesmo filho: a gente começa a morrer desde que nasceu, e embora aconteçam coisas desagradáveis em nosso caminho, pessoas como sua vó, sua mãe, meus amigos, e principalmente você, fazem qualquer coisa negativa ser apenas um grãozinho de areia em um universo de felicidade e satisfação!
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