15 de abril de 2010

7º Tendencies Rock Festival: Entrevista com Mukeka di Rato e Os Pedrero (ES)

O festival começa nesta quinta, e na programação aparecem bandas de fora do Tocantins com destaque certo como Dado Villa-Lobos, Raimundos e Blaze Bailey. Outras são apostas por serem novas bandas que estão despontando em suas cidades de origem, como o Girlie Hell em Goiânia. No entanto, há um terceiro grupo: o de bandas consagradas e tidas como clássicas, mas restritas ao cenário o qual pertence, caso específico do grupo capixaba de hardcore, Mukeka di Rato.

Fã declarado da banda, aproveitei a oportunidade para entrevistar o menudo capixaba Fábio Mozine, baixista da banda e dono de selo underground em pleno século XXI, que ainda tem tempo para escrever livro e tocar com outras duas bandas que possuem nomes de causar inveja a qualquer um: Os Pedrero e Conjunto Merda de Música Rock.

Estão contextualizados agora? Não importa, vamos para a entrevista. Lá, sempre tem alguma resposta.

mukeka baixa

Matarte: O  Mukeka di Rato está com 15 anos de atividades, e é hoje uma das bandas de hardcore mais importantes do país. No entanto, o Mukeka se diferencia principalmente pelo cinismo nonsense das letras, que além do riso ainda provocam boas reflexões. Como é a sensação de ter uma banda underground em um mundo globalizado onde um moleque há milhares de quilômetros pode ser um grande fã sem que vocês sequer tenham consciência disso?

Mozine: Pois é velho, o mukeka tem esse aspecto mesmo muito doido. E imaginar que até hoje em dia, depois de vários anos tocando, ainda somos uma banda ruim pra cacete, muitas vezes fazendo shows drunk as fuck no palco, e depois entramos no estúdio e gravamos um puta cd bem produzido, e um dia tocamos num festival pra 3 mil pessoas, no outro dia num estúdio pra 150 pessoas, etc. Talvez pelo fato de hoje em dia todos nós estarmos com outros empregos fixos e a banda ser um hobby, isso tem ajudado. Nos sentimos bem livres pra tocar pelado ou de terno, e isso é legal, faz o mukeka di rato ser o mukeka di rato, não temos rabo preso com TV, gravadora nem ninguém.

Matarte: O Mukeka é uma banda old school, da época do k7, já fez turnê e lançou disco no Japão e acaba de lançar no Brasil um compacto em vinil com os conterrâneos do Dead Fish. Você quase morreu em uma turnê européia. Como você acha que uma banda pode sobreviver na música hoje em dia, quando a todo momento surge a melhor banda de todos os tempos?

Mozine: O mukeka é uma banda doida. Parece que certas coisas só acontecem com a gente mesmo e é sempre uma historia bizarra e pitoresca pra contar. Eu sinceramente não sei como uma banda pode sobreviver de música hoje sem estar envolvido com movimentos políticos pra bancarem essa banda e empurrarem guela abaixo dos outros e tocarem em shows que essas organizações políticas organizam. Essa é uma forma. A outra forma é dando o cu pro sistema, que pode ser uma boa forma caso você sinta prazer em fazer isso, afinal ninguém é obrigado a tocar som ruim. A outra forma é você conciliar vários trabalhos alternativos como selo, estúdio, produção. Essa é a única forma que eu vejo para estar envolvido 100% com música ou algo assim, e conseguir sobreviver sem trabalhar de terno num outro lugar.

Matarte: Comente um pouco sobre o que significou cada disco do Mukeka pra você na história da banda.

Mozine: Caralho...hehehe Vamos la né:

Pasqualin na Terra do Chupa Cabra (1997): primeiro disco, eu acho bem tosco, ouvir hoje em dia me incomoda, mas muita gente gosta né? Dizem que é clássico e realmente tem bons hardcores de moleque ali, muitas músicas estão no nosso set list e acho que nunca sairão.

Gaiola (1999): considerado um clássico do hc mesmo, apesar deu ter medo dessas considerações. Eu gosto muito do disco. Óbvio que vendo hoje em dia, vejo várias coisas que não faria ali. Mas acho que mandamos muito bem na época. Também cheio de musicas no set list.

Acabar com Você (2001): era difícil fazer um disco depois do Gaiola, depois de toda repercussão ainda mais com troca de vocalista. Mas eu acho que mandamos bem, pois o disco tem muita personalidade, e é um dos que eu mais gosto também. Ele é mais as fuck, saiu daquela fase meio madre Tereza de Calcutá que tem o Gaiola.

Maquina de Fazer (2004): a banda estava numa fase podre, cheio de tretas, o disco é ruim, se você ler a letra de maquina de fazer, tá escrito ali: eu não quero tocar mais nessa banda. Mas eu gosto. Comecei a escutar esse disco anos depois, tem musicas muito pesadas e rápidas.

Split com vivisick e hero dishonest: duas bandas interessantes e discos que saíram por duas gravadoras muito importantes pro mukeka, 625 thrash e sound pollution. Também tem musicas cativas nos set lists.

Carne (2007): grande disco. Acho que é um gaiola revisitado. Calou a boca de muita gente que pensou que íamos abrir as pernas por estar numa gravadora grande. Daqui a 10 anos pode me incomodar igual os discos velhos me incomodam hoje, mas atualmente é um disco que eu ainda consigo colocar pra ouvir. hehehe



Matarte: Quais as próximas metas do Mukeka e Os Pedrero?

Mozine: Pedrero: lançar um EP em vinil 7” chamado PIN UP GORDINHA. O ep já esta pronto, só falta gravar. Até a capa já esta pronta. E continuar tocando em alguns shows que formos convidados. Apenas isso.

Mukeka: lançar o novo cd que vai se chamar “Atletas de Fristo”, prensar o Gaiola em 12” vinil branco pra tour européia que vai rolar em agosto (confirmado praticamente) e continuar tocando no Brasil. Tenho idéia de fazer o carne em LP 12” também.

Matarte: Tanto o Mukeka quanto Os Pedrero tiveram seus últimos álbuns gravados no estúdio Tambor com produção do Rafael Ramos, que já tem experiência com Móveis e Matanza e é um dos donos da Deckdisc/Polysom. Como rolou essa parceria? Ela continua para os próximos lançamentos?

Mozine: Sim, ainda temos contrato assinado com a deck e temos bom relacionamento com eles. Já estamos tentando marcar a gravação do próximo disco. O Rafa sempre se disse fã do mukeka e quando soube que o Sandro voltaria ao vocal resolveu nos contratar, mais por uma realização pessoal do que pra tentar vender ou ter lucro (eu acho). Acredito que muito em breve estaremos entrando em estúdio pra gravar o novo, e gostamos de trabalhar com o Rafa, provável que ele seja o produtor novamente.



Matarte: Aparentemente, a Laja Rekords aposta na comunicação e interação com os fãs. Além da parceria com jornalistas importantes no cenário underground nacional como o Ricardo Tibiu, ainda tem os games online do Merda, do Motoqueiro Doido, e o jogo de tabuleiro no encarte do split com o DFC. Isso é importante para você?

Mozine: Sim, acho legal falar com a galera, não gosto de ser impessoal. Se tenho um selo, e sou eu que organizo esse selo, porque não responder um email de forma pessoal e tratar as outras pessoas pelo nome delas? Tenho clientes a mais de 10 anos, que continuam comprando coisas comigo e sustentando meu selo. Essas pessoas acabam virando meus amigos que depois vou ficar conversando sobre cachaça, futebol e mulé.

Matarte: A cena roqueira do Espírito Santo é conhecida no resto do Brasil principalmente por causa do Dead Fish e do Mukeka di Rato. Que outras bandas estão na ativa atualmente e você indicaria para que a gente conhecesse?

Mozine: Vou citar algumas, e vocês escolham a que mais agrada:

Puritan: hc sxe tipo Confronto, banda séria.

Lordose pra leão: banda de rock que mistura um pouco de hardcore também, bem antiga, lembra titãs da fase boa.

Undertow – banda das antigas também, o batera dos pedrero também toca bateria nessa banda. Rock n roll com um pouco de punk rock

Gustavo Macaco – cantor doido. Varias melodias bonitas e bons shows, completamente diferente do hc, mas valeria a pena dar uma conferida com outros olhos

Zemaria – grande banda de musica eletrônica, vive na Europa, estão antenados

Trepax – estão sendo lançados pela gravadora dos caras do zemaria, musica eletrônica tbm, com instrumentos, etc

Fe Paschoal – Gosto pra caralho! Moleque novo que faz umas composições meio sambinha, meio rock n roll, meio experimental.

Matarte: Há anos o Porkão cria a expectativa da vinda do Mukeka di Rato para o Tendencies. Como vocês estão se preparando para finalmente vir pela primeira vez a Palmas e ainda trazer Os Pedrero na bagagem?

Mozine: Sempre gosto de tocar em locais aonde nunca toquei. Então posso te dizer que estamos felizes em fazer essa viagem, mas o show será basicamente o mesmo show do mukeka di rato, não haverá muitas diferenças não. Mas isso não quer dizer que será ruim hehehehe. Gostaria de conhecer algo na cidade também, pelo fato de tocar nos dois dias, pode ser que eu tenha tempo pra fazer algo, tomara!

Matarte: Aqui em Palmas, o público ainda não tem muito costume de comprar merchan das bandas. Como você trabalha com isso, aqui fica o espaço para que você faça a promoção dos lançamentos da Laja Rekords, tanto cds quanto livros e documentário.

Mozine: A gente vai levar tudo pra vender e costumamos praticar preços bem baixos nos shows (pela net) também. Mas esse lance de comprar vai de cada um, óbvio que eu queria vender 100 mil dólares ai no show, hehehehe mas caso venda 10 conto, tá bom, dá pra comprar 3 cervejas garrafa, caso o Porkão não coloque um bom estoque pra gente no camarim.

2 comentários:

Tácio Pimenta disse...

muito bom, muito bom, muito bem

caio disse...

eu curto mto o mukeka mas eu achei o último álbum carne menos pesado que os outros, mas mesmo assim bom. to ansioso pro próximo álbum deles