2 de abril de 2010

Matarte no Salão #4: Tadeu Schmidt e a inspiração para os “sem futuro”

Palestras costumam ser frustrantes pelo excesso de expectativas criadas. Os palestrantes profissionais, acostumados a viajar pelo país em função desta atividade, insistem em apresentar fórmulas matemáticas que deveriam nos fazer chegar ao sucesso, independente de qual seja o nosso objetivo. Neste caso, parece que eles mesmos só usam essas fórmulas para vender palestras e livros, deixando que somente nós tentemos a sorte na prática.

Tem também aqueles que querem compartilhar uma experiência vivida pelo próprio, e que se torna desinteressante quando você já conhece a história divulgada através da mídia, ou decepciona quando você percebe que não se identifica tanto assim com a pessoa que você admirava.

No dia 22 de março, o 6° Salão do Livro do Tocantins recebeu o jornalista e apresentador Tadeu Schmidt, o cara do Fantástico que mudou a forma de contar a história de um jogo de futebol. Ele é unânime em sua simpatia na TV, e o contato direto com o público em suas palestras poderia arriscar a boa imagem que maioria tem dele e o colocar em um dos grupos citados. O nome de sua palestra é a frase mais disseminada pelo mundo no distante ano de 2009: “Sim, você pode”. Título que explicitava uma palestra motivacional. Porém, clichê não é uma palavra que combina com Tadeu Schmidt.

Ele não é desses palestrantes profissionais, portanto seu “amadorismo” favoreceu a espontaneidade e desfez frases de efeito. Sua verdade desnuda foi o fator principal para ser uma palestra que realmente motiva para o futuro, principalmente no caso de jovens que tem decretado o título de sem futuro por não se enquadrarem em determinados padrões estéticos.

Promessas da Globo4

A trajetória do potiguar Tadeu Schmidt começa com a adolescência em Brasília e a pressão interna por ser irmão do Oscar, o melhor jogador brasileiro de basquete de todos os tempos, e o maior cestinha da história do basquete mundial. Além desse irmão talentoso no esporte, o segundo irmão estudou muito para passar no concurso da Marinha para ser prático (manobrista de navio) e ganhar um dos melhores salários do país. Enquanto isso, Tadeu tentava a vida no vôlei, e chegou a fazer parte da seleção brasileira infanto-juvenil com 17 anos, ao lado de Nalbert.

Quando ele achava que seguiria carreira no esporte, veio o corte da seleção como a maior a decepção da vida dele e as incertezas quanto ao futuro. Ele teria de fazer faculdade, mas não tinha a menor aptidão por nenhum curso. Pensou em Publicidade, Jornalismo, Direito e até Economia. Envergonhado, ele admitiu ter escolhido o curso de jornalismo por ser aquele que mais tinha mulheres bonitas (naquela época, né?).

A faculdade lhe trouxe novos obstáculos. Tadeu Schmidt confessou que até então ele não tinha o costume de ler livros, jornal era só quando saía alguma matéria sobre o irmão mais velho. Ele sabia que estava anos-luz atrás de outros colegas, e só restava a ele correr atrás do prejuízo.

Este foi o momento decisivo da vida dele, quando teve de colocar em prática, aquilo que ele hoje analisando o passado percebe ter sido a trinca de qualidades que o fez alcançar a atual posição na carreira como apresentador do Fantástico: dedicação, criatividade e coragem.

Primeiro veio a dedicação para conseguir gostar de ler. O primeiro livro que ele tentou foi o Príncipe, não o pequeno, mas o maquiavélico. Leu, não entendeu, e o releu até entender o que era dito. Assim seguiu lendo livros clássicos, mas de leitura difícil, como Goethe, e adquiriu o costume de ler livros por toda a vida.

Em um segundo momento veio o desenvolvimento de uma linguagem própria na produção de suas matérias quando ainda trabalhava em um veículo de comunicação em Brasília. Durante a palestra, Tadeu citou a frase “Tudo o que tinha para ser inventado, já foi inventado”. Bate um desânimo profundo ao ler ou ouvir essa “máxima”, mas ele revela que o autor desta frase proferiu esta maldição em meados da década de 90, só que do século retrasado. O cara não sabia nem que inventariam um aparelho televisor. Ou seja, a gente sempre pensa que não dá pra se criar nada mais porque realmente é difícil, dói a cabeça e tudo mais, e é por isso que criatividade é uma qualidade tão estimada em qualquer situação.

A coragem se destaca nos momentos em que ele teve de tomar decisões na sua vida pessoal e profissional, além de sempre estar presente junto às outras qualidades. Um exemplo simples que ele apresentou foi a coragem para superar as saias-justas que ocorrem durante transmissões ao vivo fora de estúdio.

No entanto, o principal exemplo que ilustra bem todas as qualidades destacadas foi a reportagem que ele fez sobre o dia em a tocha olímpica passou pelo Brasil em 2004, pela primeira vez na história. Um dia inteiro com a tocha passando de mão em mão entre alguns dos principais atletas do país, artistas e outras personalidades. Ao fim do dia, Tadeu tinha de fazer uma reportagem para o “Bom Dia Brasil”, que passa às 7h30 da manhã. Eram 20 fitas com gravações do passeio da tocha. Que tempo ele teria para fazer essa matéria? A madrugada. E assim o fez. Uma belíssima matéria com pouco mais de 2 min de duração, digna de Tadeu Schmidt. Orgulho dele.

Oscar Schmidt sempre diz: “Mão Santa? Que nada, é mão treinada!”. A conversa de Tadeu Schmidt segue essa tendência de humanizar aquilo que faz, e convence de que é possível para qualquer um se destacar dentro dos segmentos que pertence, não é fácil, mas depende mais do esforço próprio do que qualquer outro fator.

Mesmo após a lição, foi possível ver jornalistas tocantinenses na sala de imprensa fazendo perguntas do tipo “qual é o segredo?”, como se ele fosse o Mister M e pudesse ensinar seus truques a eles. As atrações passadas do Salão do Livro, Cordel do Fogo Encantado e Teatro Mágico, responderiam melhor esta pergunta com a célebre frase: “Isso não se ensina, seu bosta!”.

Um comentário:

Unknown disse...

Realmente... não se ensina! Mas, depois desse Salão/Circo/Feira do Livro, tô achando que também não é de família não! A "conversa" com Tadeu só rendeu elogios, já de Oscar... não ouvi nem li coisas boas à respeito.
Parabéns pela entrevista.