21 de março de 2010

Zé Ramalho e o Dia em que a Chuva Falou por Nós

Se tem algo que irrita quando a gente vai a um evento, é a impressão de ter sido passado para trás, não é mesmo? Noite de sábado, 20 de março, momento do tão esperado show do medalhão da música brasileira Zé Ramalho. Com ingressos de pista no valor de 30 reais a meia entrada e 400 reais a mesa, o Espaço Cultural lotou de gente que não poupou esforços para prestigiar o evento “cultural”.

Antes da entrada, algumas desagradáveis surpresas. A área onde fica o formigueiro e a rampa de entrada para o teatro estava livre para circulação de quem estava fora, e com apenas um cercadinho com furos que davam uma visão para o palco das mais privilegiadas, digna de um bom camarote. Começou aí a sensação de ter sido feito de otário por pagar 30 reais pelo show. Ainda tinha uma fila quilométrica que aguardava a todos na portaria.

Lá dentro, meu pior pressentimento se confirmou. A pista era um curral em forma de corredor, e bem distante do palco. Área descoberta na maior parte do espaço, apenas uma tenda com um aglomerado de gente, e a boa opção de tomar Nova Schin por três reais. Diante deste cenário, o show ameaçava ser interminável mesmo antes de começar.

O show começou e o Zé Ramalho mostrou ser incrível mesmo com a distância que estávamos um do outro, e me fez esquecer dos problemas de produção por alguns instantes. A voz personalíssima e cheia de presença, a mistura dos ritmos regionalistas com a influência de Bob Dylan bem tocados junto à banda Z, e todos os clássicos que queríamos ouvir direto da fonte original. Sim, já cansamos de ouvir todos os músicos de bar tocar Zé Ramalho, e o sucesso de público do show preocupa já que agora tais músicos terão a desculpa de cantar as músicas dele “em homenagem à vinda recente deste grande artista da música brasileira”. Dá até pra ver esta frase saindo da boca de um deles né?

Até pouco antes da metade do show, só o pessoal que estava pista seria atingido pelo desprezo da produção. Nós reclamaríamos no dia seguinte, e ficaria por isso mesmo já que foi a plebe que “preferiu” ir de pista. Quando, de repente, uma Chuva - merece maiúscula porque foi um importante personagem - apareceu para dar boas oportunidades a quem estava na pista, e evidenciar os erros de produção também para o pessoal que tava sentadinho nas mesas tomando aguinha, cerveja, refri e comendo salgadinhos. Simplesmente, ignoraram os limites da cobertura do Espaço Cultural, e venderam muitas mesas em área descoberta.

Muita gente que havia pagado 400 reais para ser bem servido teve de se levantar para fugir da chuva, deixando abandonadas suas mesas com fartura de comidas e bebidas. Foi o momento em que muita gente que estava na pista corajosamente (para quem viu o tamanho dos seguranças) rompeu as grades de separação e invadiu a área das mesas sem muita dificuldade. Isso aconteceu por duas vezes. Preferi não arriscar meu rostinho lindo que mamãe caprichou, mas nem por isso deixei de aproveitar. Consegui pegar um prato com porção de presunto, queijo e azeitonas para dividir com os amigos, e um conhecido ainda me passou um refri que estava me chamando havia um tempo. O melhor de tudo foi que com o frio por estar molhado pela chuva, só havia um jeito de não sofrer com isso: dançar, beijar a namorada e se divertir sem receio de exageros.

Esse show foi histórico desde já. Pela primeira vez, a elite social de Palmas também foi atingida pelo despreparo de uma produção de shows comerciais, e certamente muita gente pagou e não gostou do que teve de passar. Assim, saímos todos unidos pela incômoda sensação de que pensam que somos povo marcado e povo feliz.

Nas paredes do Espaço Cultural, algumas faixas nos alertam: o show do Capital Inicial está chegando! Quem quer pagar para ver os mesmos erros se repetirem?

Obs: Não tirei nenhuma foto porque não levei minha câmera. Ainda bem, pois ela estaria encharcada e a minha justificativa para não colocar fotos aqui seria bem pior.

8 comentários:

Fontes disse...

Fiquei surpreso pelo fato do Zé Ramalho não ter dado nenhum piti com a produção do show, assim como já ocorreu com outros medalhões do quilate de Fágner e Oswaldo Montenegro...

Unknown disse...

kkkk...diante do seu relato, vejo que não tenho motivos pra me arrepender de ter ficado ouvindo o show da janela do apartamento.
Estava bem mais confortável e ainda pude contar com a honrosa companhia de Serginho Groisman e convidados, rs!

Elson disse...

Amigo Daniel... Nem queira expor um dedo fora da boca do leão. Continue vociferando sentires. Sua identidade e estilo estão extrapolando sensos-comuns. Siga, avohai...

Quando te via, ainda era um biscoito saudosista da Bota. Parece que há algo de podre no reino da Dona Laura!
Danke, God!

Daiane Santana disse...

É.. eu fui no cercadinho e o rompi, pulando para as mesas... foi o melhor momento do show... só acho que não pode esquecer de lembrar que... o som estava ótimo...
Ponto final..

O resto vc disse =]

Unknown disse...

O som (aparelhagem) estava um lixo!!!!

Tentei invadir a área das mesas passivelmente mas me dei mau. UaHuaHuahaUha

Próximo show no espaço cultural só vou ficar no formigueiro mesmo!!!!

Ciro Gonçalves disse...

Também gostei do show

Unknown disse...

É, eu fiquei no formigueiro! Sorte, um camarote! Ainda levei um vinho de casa e pronto, super agradável. Mas se não tivesse tido a sorte do formigueiro estar livre pra circulação, não teria entrado. Só de birra mesmo...não comprei ingresso depois que fiquei sabendo da organização, que seria parecida com a do show do Caetano (sem comentários, grande merda). É triste isso de pagar pra passar raiva...birrei, e por mais que adore Zé Ramalho, não iria entrar de jeito maneira!

Unknown disse...

uaauhauha foi emocionante...
"o conhecido do refri" era eu...podia ter colocado meu nominho ali que ia ser massa ahahuhuauhauhaa
Mas foi bom de mais o show...
ahh e como tinha dois ícaros... Sou o ícaro de dreads e sem barba uahuauha
abração!